Além de convocar a população a resistir a tentativa de golpe, Luis Arce chegou a confrontar Zúñiga. Em um registro, o atual presidente boliviano foi visto dando a ordem para que o general se retirasse do palácio presidencial junto das tropas que liderada.
Além disso, o chefe de Estado agiu de forma rápida e trocou todo o comando das Forças Armadas da Bolívia.
José Wilson Sánchez Velásquez substituiu Zúñiga, e em sua primeira fala como novo comandante do Exército ordenou que soldados saíssem das ruas e voltassem para os quartéis. Pouco tempo depois, militares que cercavam o Palacio Quemado recuaram foram embora do local.
Zúñiga foi preso pela policia boliviana horas depois, e acusou Luis Arce de orquestrar a tentativa de golpe com o objetivo de aumentar a popularidade do governo em meio à proximidade das presidenciais de 2025.
Tentativa de golpe em momento político conturbado
A tentativa de golpe dessa quarta-feira (26/6), a 194ª em 199 anos de independência da Bolívia, segundo o pesquisador Maurício Santoro, tem como plano de fundo uma divisão política entre Luis Arce e Evo Morales.
O atual presidente da Bolívia chegou a ser ministro da Economia e Finanças durante a presidência de Morales, que apoiou Arce nas eleições de 2020. Contudo, divergências políticas afastaram os antigos aliados.
“Morales acusa Arce de adotar políticas liberais e de direta, ao passo que Arce acusa Morales de querer dividir o partido e enfraquecer seu governo”, explica a analista de política internacional Ana Lúcia Lacerda, do Laboratório de Estudos sobre Regionalismo e Política Externa da UERJ.
Em outubro de 2023, Arce foi expulso do partido Movimento ao Socialismo (MAS) após não participar do congresso da sigla, que confirmou Morales como candidato nas primárias da sigla para as eleições presidenciais de 2025.
Apesar das inúmeras dúvidas sobre a tentativa de golpe, especialistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que a democracia e o partido Movimento ao Socialismo se saíram vitoriosos no episódios.
“O fracasso da tentativa de golpe, projetada por segmentos do Exército que apoiam a direita, é o exemplo nítido de que as ofensivas antidemocráticas não serão aceitas pela população, e que o MAS, mesmo dividido, é forte ferramenta de mobilização e união popular”, acrescenta Ana Lúcia Lacerda.